Quem nasce no Brasil, é brasileiro. Não importa se o pai ou a mãe, ou ambos, tenham nascido no exterior. Aqui na Holanda a lei é diferente. Para ter a nacionalidade holandesa, pelo menos 1 dos pais deve ter a nacionalidade holandesa no dia que o filho nasceu. A regra também se aplica para naturalizados.
Mas, e se nenhum dos pais era holandês por ocasião do nascimento do filho? A criança é registrada, porém recebe a nacionalidade dos pais. Quem mora no exterior a mais tempo, deve lembrar da campanha para mudar o projeto de lei no Brasil para garantir nacionalidade brasileira para os filhos de brasileiros no exterior (leia mais aqui).
A questão da nacionalidade não é apenas algo burocrático. A nacionalidade também cria raízes profundas na vida sentimental de uma pessoa. Ontem eu li uma entrevista que o rapper Salah Edin concedeu ao jornal De Pers, e serve de exemplo para ilustrar o que acontece quando um cidadão não tem raízes onde vive e cai nas garras do radicalismo religioso. Afinal, a religião é ainda o único elo que une pessoas de diversas nacionalidades.
Salah Edin, nome artistico de Abid Tounssi, ficou famoso por causa do filme anti-islã Fitna, do politico Geert Wilders. No filme, a foto de Salah Edin é usada para ilustrar outro rapper, Mohammed Bouyeri., que cumpre prisão perpétua depois de matar o cineasta Theo van Gogh, descendente do pintor famoso Vincent van Gogh. Salah Edin, nasceu em Alphen a/d Rijn, filho de pais morroquinos. Por causa disso, Salah não tem nacionalidade holandesa, mas marroquina.
A entrevista é cheia de pérolas ... frases como:
"Não. É difícil. Eu não me sinto um, mas eu tenho o sentimento dentro de mim", resposta ao ser questionado se ele se sentia um holandês.
"Eu sou um despatriado. Aqui sou um estrangeiro, no Marrocos eu também sou estrangeiro".
"Deveriam ter cortado outros lábios", referindo-se a Hisi Ali, nascida na Somália, ativista feminina que é jurada de morte por seu discurso anti-islã. Na infância ela foi submetida à pratica de incircunsição feminina.
"Ele (Mohammed Bouyeri) me inspira" . Como que alguém com um perfil tão monstruoso, além do assassinato, Mohammed Bouyeri é também acusado de pornografia, necrofilia e violência sexual, pode servir de inspiração?
Para quem lê em holandês, a versão online da entrevista pode ser encontrada no link do jornal De Pers edição 16 de abril 2009.
5 comentários:
Olá, Jaboticaba,
Esta é uma questão que gera muitas controvérsias... Imagina viver num lugar a vida inteira, inclusive nascer neste lugar, porém não pertencer nem a ele nem ao país de origem dos pais - pois alguém nestas circustâncias vive como disse Homi Bhaba, um teórico que li uma vez, 'suspenso' entre culturas.... e acaba por não pertencer a lugar algum... Isso só pode gerar conflitos. As idéias deste rapper são absurdas, mas talvez se houvesse maior integração, talvez a situação não chegasse a este ponto?
Eu não sei.... vivi na Holanda na época do antes do 11 de setembro de 2001 - já havia muito conflito entre as duas culturas, mas era tudo mais camuflado... nada se compara como hoje em dia.
Tenha uma ótima semana,
"mas talvez se houvesse maior integração"
Sonia, concordo plenamente com o que você disse. Vale lembrar que a integração é uma via de mão dupla. Os dois lados (holandeses e estrangeiros) devem cooperar. Ainda mais que a cultura ocidental e islâmica são distintas.
Um abraço e obrigada pela visita! Beijocas
Nossa, onde vamos parar?
Maninha o que faz uma pessoa nao é um pedaco de papel dando a ela a nacionalidade. Veja só o expemplo desse moco: nasceu na Holanda, mas tem mentalidade marroquina. Se em marrocos ele é considerado estrangeiro, com certeza nao é holandes!
Ah mana, é complicado... muito complicado...
Põem complicado nisso!!
Acabei de ler uma matéria interessante que saiu na Expatica: 1/3 das escolas holandesas promove a segregação. Veja no link:
http://www.expatica.com/nl/news/dutch-news/One-third-of-Dutch-primary-schools-promotes-segregation_51900.html
Beijocas
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